Hérnia abdominal interna é uma condição incomum, cuja natureza muitas vezes não é reconhecida antes da intervenção cirúrgica. Este assunto foi revisto por Moynihan e Dobson (6), em 1906, por Short (7), em 1925, e recentemente por Hansmann e Morton (3). Os últimos autores citados tabularam os artigos sobre hérnia interna que aparecem desde o resumo de Moynihan e Dobson. O número total de casos registrados, conforme listados por eles, é de 467. A fossa abdominal comumente envolvida e a freqüência relativa de hérnia nos vários locais pode ser obtida na Tabela I.
De acordo com esta compilação, a hérnia na fossa paraduodenal esquerda é a mais comum. Para alguns locais apenas alguns casos foram relatados.
A presença de uma hérnia intra-abdominal pode produzir um quadro confuso no exame roentgenológico do trato intestinal devido à posição anômala das vísceras intestinais. Encontra-se menos dificuldade quando apenas o intestino delgado está envolvido. As alças cheias de bário do intestino delgado tendem a ser recolhidas numa massa compacta e a entrada e saída efectiva das alças do intestino delgado no saco herniário pode ser demonstrada (2). Quando há obstrução de grau grave, as dificuldades diagnósticas são aumentadas (3).
O caso seguinte é relatado porque representa um tipo de hérnia interna que não foi previamente descrito, de acordo com uma pesquisa da literatura disponível, e porque os sinais diagnósticos dos roentógenos parecem ser bastante patognomônicos.
Relatório de Caso (Raio-X nº A006374).- O paciente, homem branco, 51 anos de idade, foi internado no Hospital Geral do Estado de Wisconsin em 6 de dezembro de 1938. Ele afirmou que durante 25 anos ele não conseguiu deitar-se no seu lado esquerdo sem sofrer dores agudas e crampeantes no lado esquerdo do abdômen. Isto tinha aumentado em gravidade durante os últimos seis anos. A dor seria aliviada ao deitar-se do lado direito. Ele tinha estado mais ou menos constipado desde que se lembrava e tinha usado catárticos durante os últimos 30 anos. O exame físico geral deu resultados essencialmente negativos. Os estudos laboratoriais de rotina estavam dentro dos limites normais. O exame de Roentgen do tracto gastrointestinal após uma refeição de bário revelou um laço de intestino distorcido por gases, a flexão esplénica do cólon, ocupando o quadrante superior esquerdo do abdómen (Fig. 1). Uma massa ovóide de tecido mole que era considerada como sendo o baço podia ser vista deitada à esquerda da coluna lombar superior, sendo a borda externa visualizada através da sombra gasosa do cólon, e obviamente deslocada consideravelmente da sua localização normal. Uma sombra separada, representando o rim esquerdo, podia ser vista logo abaixo do baço deslocado. Havia uma quantidade considerável de fezes impactadas na porção ascendente do cólon e um filme feito três horas após a refeição mostrou alguma dilatação de bobinas de jejuno inferior e íleo no abdômen inferior.